terça-feira, 3 de dezembro de 2013

domingo, 17 de novembro de 2013

Galo

O gole preso no gargalo
Quando perco a voz
É quando melhor me calo

Quando num trago
Num frago se trá-lo
Um peito em prensa
A gota que não compensa

Um fim em ralo.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Língua de sogra

Pra se provar a culpa
Não precisa levantar muita coisa
É só deixar o culpado falar

Se lhe cabe a culpa
A razão cede às desculpas
desconexas, lançadas ao ar

O tolo está mais preocupado
com o retruco da conversa
do que em dar razão ao se pensar

São frases saindo pela culatra
Em defesa de sua pseudocontraposição
Preferindo a formalidade da ignorância
ao desconforto da militância, pura opção

Fala-se em um leão por dia
Vê-se que leão é a sombra de um gato
Escaldado, arrepiado de medo
Virando a próxima esquina

O pior é que sabe disso tudo
Do quão sórdido conteúdo
Que por si só o faz dormir
Com uma pedra no travesseiro

Que lhe pesa a consciência
Dorme o sono de um zumbi.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Tinteiro

Bethânia deixa rastro por onde passa
Por onde passa fica o seu depor
As telha e paredes transmitem o calor
Que aquece a carne, quase a assa
Provocando leve ardor

Uma breve despedida provisória
Time que sai de campo sem vitória
Recorre ao caderno professor
Requer contato com a história
Sai das linhas vencedor

A nuvem não te traz o tato
Já no papel é fiel contrato
De um pacto pelo tempo
Pelo seu comum retrato
Relatado em seu momento

Sua folha amarelada
É janela ensolarada, escancarada
À espera do olhar leitor

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Dama de Ferro

O sorriso bem incidente
Não cobre por total
Os problemas de cada
Dependendo, quase nada

O próximo lhe estranha
Apesar dos menores
Apenas um joga areia nos outros
Um xeque quase mate

Mate o chá desta azia
Um sopro de cisco nos olhos
Desprende o superficial
Arranha a pintura fria

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Grand Canons

Difícil é ver como é fácil
Como passar a perna funciona
Mulheres, crianças, gays, negros,...
Todos de joelhos gratos

Farinha do mesmo saco (?)
Lamentando suas culpas inventadas
Revestidos da pureza distante
Talvez o melhor do seu alcance

A estrada não acaba aqui
Muitos passam, mas a ideia continua
Água mole e pedra dura
Ninguém voltará.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Pirameidal

Etiquetaram os valores
Os preços dos custos e costumes
É tempo das altas nas ruas
Enquanto em uns, insônia
N'outros, sono de dever cumprido
(Pelo menos por hoje)

Os insônios bolam seu planos
Já aqueles, abrem mão dos seus sonhos (sono)
E tudo se encaixa
Basta saber em quem
(Pelo menos por ora)

Um tanto
meio rito.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A via

Em que pese o que se voa
Embora se a mente destoa
Povoa! Enche-me os dias
Ancora sentada na proa

Se ao lado a maré vira
O porto do barco gira
Pira! São fogos de São Pedro
Fogo, medo, pavio e mira

Pelas placas sem saídas
Nas estradas as vidas
Idas! As voltas que se dão
Manutenção em quando envelhecidas

Uma esteira criando aderência
Repulsa o que é de aparência
Evidência! É seu cultivo
São safras e suas tendências

São vias.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Desfarrapada

O que poderá ser deste
Se não mais enxerga o lado
Se já não amarra o sapato
Exala em notas as vontades

Não mais lê o jornal
Apenas compra as notícias,
a opinião e a desculpa

Discurso na ponta da língua
O mais distante possível do cérebro
Usa muletas pra não cair
Mesmo não as precisando

De frente à depressão
Impulsiona para o salto
É dia de assalto
Tirar o quê de quem

E uem!

domingo, 5 de maio de 2013

Pretextualizar

Mas que loucura
Teorias guiadas às escuras
Preços e medidas que os meçam!
Fá-los terem a sobra
A desculpa pro que não presta
Isentam-lhes as cotas
Chicoteando as arestas

O suor é terceirizado
A informação, canalizada,
mastigada, pra tão logo digerir
E logrado o efeito
Mascaram-se os defeitos
Pra só então poder sorrir
e gozar do pleito

O crítico entrou em extinção
Risco à sobrevivência da humanidade
Uníssonos em uma canção
Boníssimos para sociedade
Fazem disso razão
E espalham pela cidade
Foragidos os que não, os que sim bem à vontade

terça-feira, 23 de abril de 2013

Friagem

Não cruzo mais nos teus caminhos
Diretas ou curvas desertas
Os pés não pisam, as mãos não tocam
Se quando chove, não molha

O sono que tira o sonho
Delírio que não vê a hora
Sufoca o ar vazio, o frio lá de fora

sábado, 20 de abril de 2013

Marca passo

Coração pela rua, coração só na sua
Há o que sai pela garganta
e o que escorre pelas mãos

E os poréns.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desmaio

Por entre os pedais do Centro
Em corredores de cimento

Onde sopram a estação noturna
Em que dias sedem seu tempo à lua

É hora que os pés se debatem
Os cachorros nos quintais latem

É vulto passando por imagens
Da baia de Vitória às margens

Do lado de lá da calçada
Está toda a moçada
Assustados com a menor fatia
de todas estatísticas do dia
Pois são assim e devem ser
Caso não, haja rua pra correr
Pena estarmos na mesma avenida
Em paralelas seguindo a vida

Vocês de lá, eu de par.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Rá! Cèu.

Por essas curvas em que passei
Um vestígio, um delay 
O retrato da infância

Do Saldanha ao cais
Tais pensamentos mortais
Desfilam em perigo urbano

Tirano lhe desvia o olhar
A lua que lhe tira o ar
Que no mar se faz brinco

O ponto onde volto
Onde do bonde salto
Sem chão nem céu.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Gangorra

Não sabem o que leem
Ora sim, ora não, ora às vezes
Embora salva a alma
O medo lhe prega à madeira,
sobe a ladeira, come o dobrado
Ecoa o viver em pecado

Furtam-lhes o óbvio
Lentes de contato nos olhos
O absurdo se torna melhor
Estranheza do normal é pior
Enterrados vivos a esperar

Suprimido em dias
Comprimido em noites
O corpo não o cabe
O fingir que não sabe
é quem traz o conforto

Confrontar a existência
Tolerar consequências
Afagar a dor de não ser
E querer ter o que não é
Pior... O que não pode ser.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Nós

Se não houve um dia de pé
Restaram todos os que não
Finaliza em soro, injeção

Madrugadas em bloco
Alvoradas sem foco
Apesar do barulho
Minha paz à dois

O ano começa
E o amor continua
O mundo estremesse
E o porto segura

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Cabra-cega

Uma barra, um código de barras
Em que pese mais conhecimento
Pese e lhe põe ao solo
Abaixo da linha da pobreza

Vestida de progresso está a ordem
O lendário lobo em pele de lã
Calando-os com borrachinhas de dinheiro

Eis que são em poucos
Assim como ter é ser
Sendo que em não se tendo
Basta sobreviver

Como brincar de vivo-morto
Vivo-morto-morto-morto!

Não se dimensionam
Nem se entregam ao penar
Sorriso de ordem o move
Comove, contém, repulsa

Morto-morto-morto-vivo!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Condução

Sobre o tempo anda em baixa
Sobrevive numa caixa
Baixa, desproporcional

Matérias e matérias mastigadas
Cuspidas em cima de plugues
Talvez o que salvasse do real

Seja quanto o desespero
Mulatas, gols e enredo
O afago ao virtual

Sobre as marquises, sonho
O que lhe dê a vida
Entre as viseiras, sono
Passaporte de ida

Naufrágio dos quatro elementos
Emparedados no cimento
Nos enquadros do legal

Liberdade na lei do mais forte
Em que nem sempre é contar com a sorte
Trilhadas por vil mortal

Submundo do cão
Todos do mesmo saco de ração
Exceção de consciência visceral

domingo, 20 de janeiro de 2013

(onda)intervalo(onda)

Mais chuvas de verão
Daquelas de efeito ciranda
Do mormaço à pancada
Onde se está, por onde anda

Como em gangorra
Quanto maior o impulso,
maior o salto, e,
o fim está nas mãos, ou não

Mas sempre um fim.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Aqui-se

A incondicionalidade é o norte
Nem sempre estamos tão próximos
Esse é efeito da vida
O: "aqui se faz, aqui se vive"

Entre boas e más venturas
Desfaz e também segura
As lições que lhe tiram
As que tiram de lição

A não-plenitude não inviabiliza
Assim como nem tudo é razão
No peito de cada, um coração
Arrancando todos os porquês

Ora responde, ora resposta
Amor não vive só de paz
Seria o silêncio de bonança
É o melhor a fazer à outrem

O maior e melhor possível.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mães ao alto!

Essa lua de meio dia
Esse sol da meia noite

Dia de Maria
Noite de açoite

O que se recebe em vida
O que sobrevive dela

O ator em frente ao público
Pastor por trás do púlpito

A cruz e a espada
Feito navalha na carne

Dar o sangue em sacrifício
Pacto de paz de espírito

O tão pouco preenche
A limitação lhes mantém

Promessas ao horizonte
Venda nos olhos e pé na estrada

Bolso vazio.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Penteffino

Como pá de cal
O vento leva a areia de perto da praia
pra longe do mar

O que seria de nós
se não fossem as ondas
A lavar e renovar grãos

O m a r lava, o a r leva, a ter r a suja!

Vai ver é disso
E se bobear é isso
Só cortando os elásticos teimosos

Soprar para longe
E respirar novos ares
Abrir bem a mão do sufoco

Viver com os próximos
Simples.